Ler o
Brasil
A leitura como ferramenta de fortalecimento de pessoas negras – conheça a história do Grupo de Leitura de Clarice ACORDI, de Joinville.
CLARICE, Joinville – Grupo
Joinville, em Santa Catarina, tem 23% de pessoas negras. Clarice Acordi, que está há anos na militância, luta para que a história negra de Joinville seja cada vez mais conhecida, e percebeu que um caminho para que isso aconteça é a partir da leitura e da arte.
O Grupo de Leitura montado por Clarice surgiu com seu coletivo de mulheres negras, o Retratos Sankofa, que tinha como objetivo viabilizar e registrar a história negra do território. As legendas deste projeto eram feitas a partir de autoras negras, abrindo a necessidade de se criar um grupo para que se pudesse ler e discutir as questões raciais.
“O Grupo de Leitura começou apenas com algumas mulheres, e hoje já tem 25 pessoas, de todas as idades e identidades, e estamos firmes”, o objetivo é que as pessoas possam se informar mais, se defender melhor e que a memória das pessoas negras não seja apagada.
A leitura tornou-se uma ferramenta de proteção em Joinville, um processo que busca entender o poder da palavra e o poder do argumento. Ao participar do programa Ler o Brasil, Clarice entrou em contato com pessoas do Brasil todo, que também montaram seus grupos de leitura, com novas metodologias e novas formas de realizar o projeto. Ser instigada a construir um projeto de médio e longo prazo, fez com que passasse a considerar novas pessoas no grupo que pudessem tocar as leituras de forma autônoma.
O programa também fomentou a vontade de Clarice, e do grupo de leitura, de construir uma biblioteca comunitária em dois quilombos em Joinville: Quilombo Ribeirão do Cubatão, e depois no Quilombo Beco do Caminho Curto. Mas, ainda é necessário ter estrutura para construir um galpão, para ter um espaço cultural, o que fez Clarice buscar se inscrever em editais públicos de cultura.
O projeto também é um espaço para conversar e desabafar, o grupo de leitura não foi diferente. As mulheres negras se sentem à vontade para trazer suas dores e suas alegrias. O combate à desinformação vem a partir da afirmação e empoderamento, para que se consiga enfrentar as violências diárias, aponta Clarice.
“Poder falar, saber que você tem o que falar, e o que você é importante. É o resgate da memória, trazer a memória da família, a história de Joinville não começou com a colonização germânica, mas muito antes”, conclui Clarice.
Quilombo Ribeirão de Cubatão
Joinville tem em seu território cinco quilombos reconhecidos pela Fundação Palmares, e o mais próximo à Clarice Acardi é o Quilombo Ribeirão de Cubatão, onde a ativista quer ajudar a construir uma biblioteca comunitária, a ser consolidade em médio e longo prazo.
O Quilombo Ribeirão de Cubatão foi reconhecido como comunidade remanescente quilombola em 2019, e tem como mais velho Olívio Cristino, que viabilizou a luta por reconhecimento junto à comunidade.
Olívio não sabia sobre sua origem africana, e após ter sido impactado pela fala de uma professora que apontou os processos de escravidão em Joinville e que existia na cidade um registros das pessoas escravizadas, foi atrás de sua ancestralidade. Ao visitar o Museu Nacional de Imigração e Colonização de Joinville, descobriu que seu avô Antonio Naro era um escravizado alforriado, em 1579. Logo, também encontrou o nome do colonizador que tinha trago seus avós africanos para a cidade.
A data de comemoração do reconhecimento legal do Quilombo é dia primeiro de fevereiro, dia do aniversário da mãe de Olívio, Maria da Graça Leopoldino. Seu Olívio tem iniciado, com apoio da comunidade, a viabilizar um galpão no quilombo, para que outras comunidades quilombolas do território possam ter mais acesso à cultura, à memória e ao lazer.