O Coletivo JACA desenvolveu a Cartilha da Meta Reciclagem com o propósito de explorar a interseção entre a população negra, as mudanças climáticas e a disparidade no acesso à tecnologia, ressaltando a urgência de combater o racismo ambiental em face da ausência de regulamentações ambientais. A iniciativa foi conte no Laboratório de Memória Negra e Soluções Ambientais da Casa Sueli Carneiro, um espaço dedicado à preservação de memórias, compartilhamento de experiências e sistematização de práticas ambientais promovidas por coletivos, entidades, organizações e movimentos negros.
Iniciada em 2009 em Salvador (BA), a proposta do Coletivo JACA surgiu da necessidade de desmistificar questões relacionadas à tecnologia, especialmente em um contexto onde são escassas as instituições dedicadas ao descarte responsável de aparelhos tecnológicos na capital. A complexidade dos resíduos tecnológicos, carregados de diversos poluentes, motivou a abordagem didática do material, explorando conceitos como descarte, resíduos tecnológicos e os desafios da reciclagem desses materiais.
Cairo, economista e representante do Coletivo JACA, destaca que “existem várias estratégias para que o nosso povo não avance, desde a falta de nutrição do alimento até a violência policial. Mas percebemos que a segregação tecnológica existe e influencia diretamente no bem-estar dentro da periferia”.
Para tornar a informação mais acessível, o coletivo desenvolveu personagens e um roteiro ao longo de cinco meses, baseados em anos de estudo. Além da cartilha, o coletivo criou um podcast informativo e está oferecendo oficinas de programação básica, incluindo uma de robótica focada no descarte de resíduos, visto que essa habilidade é cada vez mais requisitada no mercado de trabalho atual.
A repercussão do trabalho do coletivo resultou em doações de computadores, tablets e outros dispositivos, os quais, após conserto, são vendidos a preços acessíveis a jovens da periferia. Essa prática visa não apenas reduzir o impacto ambiental, mas também proporcionar acesso a tecnologia a uma parcela da população que enfrenta desafios econômicos.
“O preço desses equipamentos ainda é um salário mínimo e para quem é da classe trabalhadora, ainda é difícil essa aquisição. A partir dos consertos, a gente consegue muitas vezes ter acesso de novo a esses bens”, conta.
Os equipamentos arrumados são vendidos a baixo custo para jovens da periferia. Os preços variam de 350 e 400 reais.