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Documentário ‘Meada Cor Kalunga’ registra memória ancestral de mulheres quilombolas em Goiás

24/11/23

Por Isabela Alves

Cartaz Meada Cor Kalunga

O curta-metragem “Meada Cor Kalunga”, dirigido por Marta Kalunga, Alcileia Torres e Ana Luíza Reis (Analu), traz o registro sobre saberes ancestrais afro diaspóricos da comunidade quilombola Vão de Alma, localizada na cidade de Cavalcante, em Goiás.

A região é conhecida por estar próxima da Chapada dos Veadeiros, onde está presente o cerrado mais preservado do país e que tem relação com a cultura kalunga presente nesse território. 

O projeto etnobiográfico registra a história de Dirani Kalunga, com a mediação de Marta Kalunga, duas lideranças quilombolas e mestras dos saberes populares. Durante os 23 minutos de filme, elas compartilham e resgatam a memória dos povos originários através da oralidade. 

“É um filme de sabedoria ancestral sobre a técnica de coloração de pigmentos naturais. Sou mulher indígena pataxó, então participar do documentário foi uma forma de acessar uma memória ancestral no meu corpo”, diz Analu, 27, cineasta e fotógrafa. 

De acordo com os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o país tem 1,3 milhão de quilombolas em 1.696 municípios. Para a equipe e a comunidade, estar contando a história das mulheres Kalunga foi o lugar de retomada de narrativa, aquilombamento e mostrou a força do poder coletivo. 

“Muitas mulheres não acreditavam que seria possível realizar o filme e quando ficou pronto foi um orgulho imenso de estar mostrando a nossa técnica e nossa cultura”, conta Marta Kalunga, 49. “O documentário abriu portas para outras mulheres quilombolas que sonham e querem contar suas histórias através do audiovisual para preservar essas memórias, passar adiante e que não se perca”.

As gravações ocorreram em 19, 20 e 21 de setembro de 2022. “O filme já estava acontecendo diante dos nossos olhos”, relembra Analu. Segundo ela, toda a gravação foi espontânea, já que Dirani e Marta são comadres muito próximas. 

Um ano após sua finalizaçao, o filme já está no mundo e ocupando as salas de cinema, sendo selecionado para importantes festivais nacionais, como a 1ª Mostra de Cinema dos Quilombos e a 3º Semana de Cinema Negro de Belo Horizonte. 

Outra conquista importante para a Casa Memória da Mulher Kalunga foi ter adquirido um projetor para fazer um clube de cinema e democratizar o acesso ao audiovisual na comunidade. Serão transmitidos filmes produzidos principalmente por produtores independentes. 

Para o futuro, elas sonham em produzir uma série com outras mulheres Kalunga e mais saberes ancestrais. Atualmente, 40 mulheres participam da Casa. “Foi uma troca muito potente e construímos tudo isso através da coletividade”, conclui Marta. 

Cena do documentário Meada Cor Kalunga

O documentário foi contemplado no Laboratório de Memória Negra e Soluções Ambientais da Casa Sueli Carneiro, um edital que buscou apoiar registros sobre memórias, abrigar experiências e sistematizar práticas negras de soluções ambientais promovidas por coletivos, entidades, organizações e movimentos negros.

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