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Memória Negra

Livro sobre Centro Cultural Afro-Brasileiro Chico Rei, em Minas Gerais, registra  a resgata história de atuação da organização

Por: Isabela Alves

Em 1963, uma organização voltada para promover conhecimento sobre a cultura africana e afro-brasileira era inaugurada na cidade de Poços de Caldas (MG), tornando-se um marco para o movimento negro brasileiro e transformando a vida das gerações futuras. Como celebração deste legado, a escritora e ativista Maria José de Souza, conhecida como Tita, de 74 anos, lançou neste domingo, 24 de setembro dois volumes do livro que conta a história do Centro Cultural Afro Brasileiro Chico Rei.  

A obra, editada e publicada pela Mazza Edições, a primeira editora negra do Brasil, com apoio da Casa Sueli Carneiro,  registra a memória documental constituída por atas ao longo dos cinquenta anos de existência da instituição, que nasceu como Chico Rei Clube,.

“Trabalhei no Chico Rei por 36 anos, então sou uma testemunha viva de todo o funcionamento. Quis  deixar um documento para que os pesquisadores do futuro pudessem trabalhar”, relata Tita em entrevista à Casa Sueli Carneiro

Uma das questões trazidas por Tita foi a da participação das mulheres na criação da instituição e que foram invisibilizadas nas primeiras documentações encontradas    

Dentre as ações principais da organização estava a integração social das famílias negras e a inclusão para que jovens negros tivessem bolsas de estudo para aprender a ler e a escrever em escolas particulares da elite mineira, pois naquela época não havia escolas que promoviam o ensino público. 

A primeira escola pública de ensino médio foi instalada apenas em 1982. “Sem o acesso à educação, as crianças reproduziam os mesmos trabalhos dos pais em subempregos ou no trabalho doméstico”, conta Tita.

A documentação de percalços, estratégias de negociação, nominação de negociadores, materializada nas atas das reuniões, constitui fonte de pesquisa para conhecer a história de resistência das pessoas negras em cidades do interior do Brasil 

A organização também atuou no combate direto ao racismo em âmbito nacional  nos anos 1980, ao participar de movimentos como o tombamento da Serra da Barriga, formulação  da lei 10.639 e a criação da Fundação Palmares. 

“Nós estamos em plena atividade na luta pela abertura política do país e pela reintegração da nossa cidadania. Enquanto autonomia política, para um processo democrático no país de se construir um novo mundo, não apenas um novo Brasil. A gente tem que pensar sempre muito maior do que a localidade de onde a gente vive”, afirma Tita. 

Sobre o Projeto Mulheres Negras Insurgentes: biografias fundamentais

A geração de Sueli Carneiro protagonizou a participação brasileira em diversas conferências internacionais que criaram parâmetros para normativas e políticas públicas implementadas em diferentes países. Inauguraram modos de fazer pesquisa acadêmica, experimentaram linguagens artísticas e travaram disputas que permitiram avanços na sociedade brasileira.

Contar a história desta geração é tirar do apagamento e do silenciamento biografias relevantes e estratégias políticas vitoriosas no enfrentamento às desigualdades. Narrar, em variadas linguagens, as biografias de quem consolidou o movimento de mulheres negras brasileiro é essencial para que a relevância das mulheres negras componha nosso imaginário social e nos permita ocupar posições de poder na disputa por justiça racial e social.

O projeto Mulheres Negras Insurgentes: biografias fundamentais viabiliza a sistematização da memória da luta de pessoas negras em expressões e campos variados, e também inclui diversidade regional, aproximando um diálogo entre todas as regiões do Brasil. Exercitamos o entendimento de biografias como fonte para a produção de conhecimento e construção de novos imaginários.

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