Em Movimento

Dos enredos à leitura: Desirée Carneiro conta como construiu o grupo de leitura para tratar de intolerância religiosa dentro da Escola de Samba Aruc, em Brasília. 

15/10/24

A Escola de Samba Aruc, de Brasília, foi o ponto de partida para que Desiree Carneiro criasse, dentro do programa Ler o Brasil, um grupo de leitura. Ela conta que o grupo de leitura iniciou após um caso de intolerância em relação ao samba enredo escolhido para 2023, que citava o Orixá Exu. 

Quando viu a oportunidade de construir um grupo de leitura no programa, Desiree não exitou em inscrever sua ideia, com o nome “Samba Enredo é escrevivência?”. Ela combinou com a Bia, coordenadora da ala das passistas, que ela também integrava. 

“Foi aí que a gente começou a entender aquele espaço, que é complexo, ocupado por todo tipo de gente, de cabeça”, conta Desiree. Ela afirma ainda, “escola de samba é um lugar preto”. Ao ser contemplada pelo edital do grupo de leitura, ela inicia o projeto. 

Aponta que a ala de passista era bastante diversa, o bairro da Escola de Samba tinha uma mescla de classe, de tonalidades, de idades, mesmo sendo de classe média. “Quando a gente começou a fazer o grupo, aconteceu uma interação super legal”, o livro escolhido foi “Quarto de Despejo”, da Carolina Maria de Jesus. A estrutura dos encontros também foi pensada por Desirée, que num primeiro momento apresentava o que estava aprendendo no programa Ler o Brasil, com objetivo de trazer referências gerais, e depois, seguia para a leitura ou discussão conjunta. 

Mesmo com os desafios de engajamento, de horário e disposição das pessoas da Escola de Samba, Desirée conta que as mulheres mandam mensagem buscando se articular de forma on-line para ler os livros desejados. Quando acontecia, o encontro era feito em uma sala de acervo da Escola, com peças que contavam a história do espaço. 

Ao ler o “Quarto de Despejo”, Desirée também propunha interseccionar o que se passava no livro, com os sambas enredos da Escola: “Aconteceu uma coisa muito interessante, os mais velhos iam. Um dia lemos um samba enredo de 10 anos atrás, e eles comentavam, e também comentavam do samba enredo do ano”. 

A ex-passista aponta que a pessoa que cometeu intolerância religiosa não buscou frequentar o grupo, porém, quando aconteceu a Escola de Samba se mobilizou para conversar sobre as diversidades religiosas. “A pessoa não teve essa abertura. Escola de Samba é um espaço muito complexo, e tem gente que vai pra dar close, tem gente que tá ali só com uma dimensão de mercado…tem de tudo. Acho que também é uma parte da realidade das escolas”. 

As pessoas com dimensão cultural em relação à Escola de Samba, frequentavam o grupo, iam para as discussões. O grupo durou 03 meses, e hoje segue com vontade de se organizar digitalmente, por conta da mudança de Desirée para São Paulo. 

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