Ler o
Brasil

“essa história foi real, Tia, a gente viveu essa história”, o impacto do trabalho de Ivanilde e do Núcleo de Educação Popular Raimundo Reis, em Belém do Pará, a partir da leitura.

IVANILDE SILVA, Belém do Pará – Sala

Do centro da Amazônia, de Belém do Pará, Ivanilde Silva, mulher afro-indígena, faz parte do Núcleo de Educação Popular Raimundo Reis (NEP), uma organização não governamental que se localiza na periferia de Belém. A Sala de Leitura permitiu que o Núcleo se reconectasse com a comunidade, a partir do encontro, do acolhimento e da escuta.

A primeira preocupação de Ivanilde, foi organizar a estrutura física da Sala de Leitura. Com o Edital de Sala de Leitura do programa Ler o Brasil, conseguiram melhorar o espaço físico e iniciar uma articulação em rede para a reativação da sala, junto com escolas, movimentos sociais e outras organizações não governamentais do território, passando, segundo Ivanilde, a construir uma rede educativa. A sala desenvolve suas ações a partir de três eixos: arte educação, alfabetização de jovens e adultos, e educação para professores e articuladores do bairro.

“Eu desenvolvi uma metodologia participativa, onde a gente desenvolvia uma oficina de arte educação, em que apresentamos autores e autoras negros e indígenas. A partir dessas oficinas, fomos apresentando esses autores e trazendo esse público para a Sala de Leitura. Iniciamos com crianças e jovens, e no segundo semestre vamos para a terceira idade”, aponta a educadora. A Sala de Leitura organizada pelo NEP já existia, e o edital do programa Ler o Brasil, apoiou o seguimento deste trabalho.

Para o desenvolvimento da Sala de Leitura, optou-se por trabalhar quinzenalmente, construindo dentro da comunidade uma conexão com a Sala, transformando-a em um espaço de encontro e trocas. “A Sala de Leitura do NEP, é um espaço de acolhimento, um espaço em que se pode conversar, onde estamos trabalhando construções de textos coletivos. Somos um espaço de encontro”.

Ivanilde percebeu que a leitura poderia entrar no cotidiano do público já frequentador do Núcleo, como antes das aulas de balé, em que as crianças poderiam entrar em contato com a literatura enquanto esperavam pelo início da aula.

A finalização da programação deste semestre da Sala de Leitura foi no III FESTIVA DA CASA SUELI CARNEIRO, com a atividade “Conhecendo Sueli Carneiro”, uma roda de conversa proposta por Ivanilde para discutir a contribuição de Sueli Carneiro. Sobre essa realização junto ao Festival, Ivanilde afirma “parece que a nossa voz está ecoando, sabe? Não está só aqui, está ganhando essa amplitude. É fundamental ser escutado para construirmos nossa identidade”.

“Apesar da entidade já ter Sala de Leitura, não tinha essa movimentação. Desde as primeiras oficinas do Ler o Brasil, sobre como cuidar de um acervo, da importância da classificação, de orientar esse acesso à Sala de Leitura…Todas as etapas foram importantes para a gente. Um espaço fechado, é só um espaço, mas quando ele está aberto à comunidade, ele passa a ser um motivador de outras ações no bairro”, aponta Ivanilde ao ser perguntada sobre o impacto do programa Ler o Brasil para o Núcleo de Educação Popular Raimundo Reis, e também para o bairro.

“Para mim o que foi muito marcante, foi no dia que a gente fez a roda de leitura falando das histórias amazônidas, histórias de assombração. Convidei a minha mãe para fazer a contação da história. Quando a gente conta uma história, a gente coloca a chave e abre a porta para que outras histórias surjam, e foi muito legal ver as crianças contando essas histórias”, Ivanilde traz esse relato como um dos momentos mais bonitos da Sala de Leitura, e ainda complementa sobre o zine construído pelas crianças após a roda, em que uma delas diz “essa história foi real, Tia, a gente viveu essa história”.

Em relação ao combate a desinformação, Ivanilde aponta que “em primeiro lugar, aqui é um espaço de encontro. Temos a oportunidade de desfazer essas notícias, nosso papel enquanto educador é ser um mediador das informações, temos um lugar para desmistificar várias coisas. A gente pensa que só porque estamos na Amazônia a água é infinita, mas não é. Esses momentos são pequenos, mas podem gerar uma mudança de ideias”. A Sala de Leitura possibilita que se traga elementos de vivência, de experiência própria.

Núcleo de Educação Popular Raimundo Reis

Localizado no bairro do Benguí, em Belém do Pará, o NEP está há 20 anos desenvolvendo um trabalho de troca de saberes no território. As atividades do Núcleo permitem o exercício da cidadania, uma vez que busca continuar os processo de educação e cultura não fornecidos no ambiente escolar e também nas estruturas públicas de cultura e arte.

No trabalho NÚCLEO DE EDUCAÇÃO POPULAR “RAIMUNDO REIS” – NEP: um dialago nas interfaces com a educação, memórias e saberes da comunidade do Benguí, da Profª pesquisadora, Maria do Livramento Ferreira de Aviz, publicado em 2011, a autora afirma que “Nesse sentido, o NEP tem proporcionado aos sujeitos da comunidade, construir oportunidades de educação que possibilite o acesso e permanência ao processo de escolarização de homens e mulheres, através de ações de apoio e estímulo a elevação da escolaridade, incentivando atividades de esporte, cultura e lazer de crianças, adolescentes e jovens do bairro do Benguí e adjacência”.

O bairro do Benguí foi construído por moradores do campo, no que se chama êxodo rural. Sua história é marcada pela luta da comunidade por mais acesso, estrutura e segurança. Sendo o segundo bairro mais populoso de Belém do Pará, enfrenta ainda hoje a falta de recursos para as necessidades básicas da população.

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