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Brasil

“A gente mora nas entranhas da Bahia, uma coisa mais profunda do que o interior”, Polyana de Ruas abre sua varanda para que a população de Barra da Estiva tenha acesso a leitura política.

POLLYANA, Chapada Diamantina – Grupo

É na varanda da casa de Pollyana de Ruas, que o Grupo de Leitura Palavreado, construído a partir do programa Ler o Brasil, ainda acontece. Pollyana é nascida na cidade de Mauá, na região metropolitana de São Paulo, mas mora no interior da Bahia, na cidade de Barra da Estiva, na Chapada Diamantina.

O Grupo de Leitura Palavreado já estava em funcionamento quando abriu o edital dentro do programa Ler o Brasil. A proposta, desde o início, era que se conseguisse trazer mais jovens e adolescentes para esse espaço de cultura, leitura e formação. “A gente tem uma dificuldade muito grande com espaço. Quem gerencia esse grupo sou eu e outra pessoa, então tivemos que abrir a varanda da nossa casa para que esses encontros acontecessem”.

Em um primeiro momento, outra demanda que levou à inscrição no edital foi buscar conseguir fornecer livros físicos para que algumas pessoas conseguissem ter os exemplares. Com o edital, conseguiram entregar esses livros para mais pessoas, “como é uma cidade pequena, a gente sentiu que foi um impacto muito grande, então chegou nas famílias”. Antes, Pollyana e seu parceiro de grupo compravam os livros por conta própria, e faziam um sorteio de quem iria ganhar e levar pra casa.

Atualmente, o grupo tem uma frequência de 20 a 25 pessoas. É um público misto, em que os adolescentes conseguiram levar seus professores e outros alunos para participarem. O resultado mais bonito, para Pollyana, foi de uma professora que levou o livro “Quarto de Despejo” para ser trabalhado dentro da sala de aulas, tendo conhecido a obra no grupo de leitura.

Pollyana percebe que a literatura trabalhada na escola ainda é muito tradicional, e por conta disso, alguns debates raciais e de gênero não estão avançados. Alguns professores têm usado a curadoria e o acervo do grupo de leitura para pensar suas aulas. Os livros trabalhados são exclusivamente brasileiros e de autores nacionais.

Existe um outro cenário colocado por Pollyana em relação ao grupo de leitura e o público que busca atingir. Muitos dos jovens e adolescentes do território são coagidos a iniciarem no trabalho muito cedo, nas plantações de café, o que inviabiliza a participação no grupo, e também, muda a importância de se entrar no ensino superior. Esses jovens moram na zona rural, e gastam muito tempo de deslocamento.

“Há uma dificuldade de acesso, não temos ônibus. Não temos uma universidade aqui, apenas há 03 horas de distância. Muitos jovens não são encorajados a irem, pois ficariam longe de suas famílias e não conseguiriam ajudar com a renda”. Porém, ao acessar os professores, Pollyana aponta como um grande desafio conquistado, pois esses professores ainda são da época do magistério, são pessoas mais velhas.

A identidade negra também é um ponto sensível, Polly coloca que as pessoas sabem que são negras, mas têm dificuldades de aceitarem e se apropriarem de sua negritude. Relata sobre um encontro em que percebeu um desafio em identificar casos de racismo de pessoas brancas e do entendimento desses casos por pessoas negras. “A gente mora nas entranhas da Bahia, uma coisa mais profunda do que o interior”, ressalta Pollyana com uma frase de seu amigo de clube de leitura.

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